sábado, 27 de março de 2010

Atirem a primeira pedra

        Passei uns dias em silêncio, refletindo sobre a vida e observando o mundo ao meu redor. Sempre atento ao que me cerca, ao que acontece pelo mundo, pelo meu mundo, pelo mundo dos outros, esse último com cuidado para não parecer intrometido. Andei vendo coisas boas, coisas muito boas, outras não tão boas, e algumas esquecíveis.

        Enquanto estava olhando a vida, aproveitava sempre para olhar umas coisas na internet. Ou que algum amigo mandava, ou coisas que eu encontrava. E numa dessas olhadas achei um vídeo interessante, chamado NNF, uma dupla formada pelos conhecidos ‘seguranças’ do programa Zorra Total da TV Globo. No vídeo, um dos atores fala assim: “ o ser humano adora sentir penas uns dos outros...” O texto segue sempre com tiradas engraçadas e coisas do gênero, mas essa frase me chamou atenção.

        Hoje pela manhã, enquanto tomava café em uma lanchonete, estava assistindo um jornal qualquer, que falava sobre um assunto que está em alta em todos os meios de comunicação: o julgamento do casal Nardoni. Embora eles já estivessem previamente condenados pela opinião pública, todos têm direito a defesa até o último instante.

        O que mais me chamou atenção não foi a pena de trinta e poucos anos pra ele ou de quase trinta pra ela, se eles foram considerados culpados, ótimo. O que me chamou mesmo a atenção foi o que acontecia do lado de fora do tribunal. Quantas pessoas aguardando o resultado do julgamento, como se a filha assassinada fosse a delas. ‘Como as pessoas gostam de sentir penas umas das outras!’

        Sei que muita gente pode, agora, começar a ter uma visão estranha, diferenciada de mim, mas o que eu quero não é fazer de ninguém santo ou demônio. Quero apenas parar pára pensar de uma maneira diferente das pessoas comuns. Só por um instante, tentar apagar qualquer preceito ou conceito anterior, e pensar que, se de algum modo, não tivesse acontecido o que todo mundo acha que aconteceu, até porque ninguém sabe, de fato, o que aconteceu, apenas temos suposições e evidências do que pode ter acontecido.

        Quando se analise um fato, sempre colocamos as nossas experiências anteriores para ter um resultado. Mas será que alguém já pensou em se colocar no lugar dele ou dela para perceber o que pode acontecer? O que pode passar por nossa cabeça se fizermos isso? Se por acaso, de alguma forma, eles fossem inocentes? Se de alguma forma isso fosse possível? O que poderia acontecer?

        Olhando para o condenado, nem sempre lembramos que ele é um pai. Eu sou pai, tenho filhos lindos, e seria capaz de fazer qualquer coisa por ele, até abrir mão de alguém que esteja comigo. Quando se é pai, a nossa visão se modifica de maneira fantástica. Tudo passa a ter um significado diferente, fazemos coisas que nunca passaram por nossa cabeça só para proteger um filho ou filha. O condenado tem, além da finada, mais duas crianças, que irão crescer sem a presença insubstituível dos pais. E os pais, sem a presença, eu diria, curadora dos filhos. Isso, só quem tem filho sabe o que é, e eu posso, com propriedade, falar sobre isso.

        Eu não entendo porque as pessoas gostam tanto de apedrejar as outras. Simplesmente acham que as outras estão erradas e pronto! Fazem festas, soltam fogos, festejam, hostilizam e depois esquecem. Simplesmente esquecem. Esquecem dos próprios erros, das coisas não tão boas que já fizeram ou das realmente boas que deveriam ter feito. Esquecem que também são humanas, tanto quanto aqueles considerados culpados.

        Sei que posso não está certo, também sei que não devo esta agradando a muitos, na verdade é provável que não agrade ninguém. É provável que um caminhão de pedras esteja pronto para ser atirado em mim por um monte de estilingues. Não me preocupo. Também não sou o primeiro a fazer isso. Embora não tenha a propriedade dessa pessoa, me sinto, no mínimo, na responsabilidade de pensar de uma maneira diferente de todos os outros.  Eu já tenho os meus julgamentos diários, preciso sempre provar para os outros que ou sou inocente, ou que posso não ser culpado ou que outros não foram culpados, e sim eu. Antes que pensem, eu não sou nada perfeito, muito ao contrário, já cometi uma quantia considerável de delitos. Por isso mesmo me sinto na obrigação de não condenar a ninguém, muito menos uma pessoa que não conheço e sobre uma coisa que eu não vi.

        Espero que eu tenha conseguido, pelo menos, fazer alguém pensar. Não quero mais que isso. E que eu possa, com a experiência daquelas pessoas que irão passar os próximos anos afastados de todos que amam, alguma coisa, mesmo que seja, ainda, difícil de ver o que pode ser.