quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Trajetória


Trajetória

                Ao longo de nossa curtíssima jornada nesse plano material, somos agraciados pela presença de pessoas que nos mostram a direção por onde precisamos ou deveríamos ir, mesmo que nem sempre sigamos suas orientações. O mais importante é poder ter a chance de deixar que elas marquem nossa memória de maneira inesquecível, principalmente quando é de forma boa.
                Tive a oportunidade de conhecer muita gente em minha vida. Gente de todo tipo, das melhores às piores, em vários sentidos, pois acredito que isso depende muito do referencial que se toma. Cada uma delas com uma vida diferente, algumas mais similares às outras, mas sempre únicas em suas particularidades. Tantas circunstâncias que seriam impossíveis de inventariar a cada uma num texto como esse, mas que estão cuidadosamente catalogadas em minhas memórias.
                Cada pessoa que conheci, com quem tive chance de interagir, me concedeu um pouco de tudo o que tinha de mais precioso: sua própria vida. Com algumas delas eu aprendi a falar, com outras a ouvir. Ensinei pouco do pouco que sabia, aprendi muito do muito que podiam me oferecer. Porém, sempre tem aquelas que garantem um espaço diferenciado em nossa vida. Não por serem melhores ou piores que as outras, mas por simplesmente estarem na hora certa e momento certo. Não importa muito há quanto tempo ela chegou. Pouco e muito tornam-se conceitos irrelevantes, pois não é a quantidade de tempo que elas nos oferecem que faz diferença, mas a qualidade desse elemento que é tão caro para todos.
                Fico feliz por ter tido, nos momentos complexos em que nem eu me entendia perfeitamente, tampouco me aceitava,  pessoas que se dispuseram de si para fazer parte de minha história e momento, que certamente nunca mais se repetirão da mesma maneira. Nunca mais poderei desfrutar da companhia de amigos completamente interessantes, contemplando um céu lindo de beira de praia, falando de teorias musicais, ou de intimas conversas sobre vidas e relatividades sobre verdades absolutas que sempre nos contaram e que nem sempre são verdades.
                O tempo segue e dá oportunidade de outras pessoas se aproximarem de nós, com experiência que nos ressuscitam e nos colocam prontos para seguir etapas das quais não conhecemos os atalhos. É muito bom saber que se pode contar com pessoas que, até poucos instantes sequer existiam, mas que tomam um espaço e uma importância nunca imaginados. Se entregam de alma e coração abertos, nos mostrando o que precisamos ver naquele momento, fazendo com que cada instante ao seu lado seja infinito,e sua ausência insuportável.
                A vida é curta, isso é fato. Só percebemos isso quando perdemos pessoas que acabaram de entrar em nossa vida e simplesmente se foram. Procuro sempre ser grato por poder participar da vida de algumas pessoas, por ter passado por outras e por outras tantas terem passado pela minha. Fico feliz por poder olhar para traz, lembrar daquela que ficaram na dobra do horizonte dos meus dias, mas que nunca sairão da minha memória. Por poder reencontrar algumas que nem esperava mais e por ganhar tantas novas. Que possamos aprender a valorizar cada um desses seres únicos, fantásticos, maravilhosos, que me fizeram a pessoa, boa ou má, que sou hoje. Obrigado.
                

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Tomando distância

Tomando distância

Todos os dias temos desafios pela frente, sempre colocando à prova a nossa capacidade de superar dificuldades, de encontrar novos caminhos, de criar novas possibilidades. Cada dia é uma oportunidade para um novo começo, totalmente diferente do que já foi feito e tentado. Mas, de vez em quando, a vida nos imputa essa condição de tal forma, que não temos outra escolha que não parar e repensar tudo o que estamos fazendo.

Eu acredito que fui agraciado pela vida quando ela me deu uma chance de modificar meu final, de poder tomar um rumo diferente daquele que eu estava seguindo. Um rumo completamente desconhecido, onde tudo assusta, causa estranheza, provoca até náuseas, tamanha a sinuosidade do caminho. Mas por que não seguir esse novo rumo? Principalmente quando não se tem muita escolha e tudo que nos resta é a certeza de que o caminha de volta é possível e aceitável, e que, partindo desse antigo ponto de referência, uma nova rota poderá ser traçada e seguida.

Quando estamos muito tempo em numa determinada situação, acabamos acostumados com o que nos cerca, mesmo que existam espinhos cutucando nossa pele. Acabam por se tornar companheiros e, mesmo machucando, perdem a nossa atenção. Aquela zona de conforto é tão aconchegante que, qualquer possibilidade ou risco de sair dela nos apavora. E continuamos limitados, mesmo estando de frente para o mar aberto, ou como pássaros domesticados e acostumados com o conforto da gaiola, onde tem segurança, certeza de alimento e água que nem mesmo a porta aberta lhe instiga a voar para fora. E a liberdade se esvai.

Mas a vida não gosta de quem se acostuma com ela, nem tão pouco retribui com prêmio a quem não se empenha ou a quem se acomoda com a água morna que trás contentamento. A vida gosta de quem a desafia, de quem olha na cara dela e diz: “é só isso que tem para me oferecer?”. Gosta quando alguém transforma adversidades em oportunidades para aprender a não cometer erros anteriores.

Tenho certeza que todas as coisas que estou vivendo no momento são muito diferentes daquela a que estava acostumado. Perdi a convivência dos amigos de tempos, não tenho mais o aconchego daquele meu sofá, escolhido cuidadosamente, não sou conhecido enquanto ando pelas ruas de uma cidade que já me fora tão familiar. Sinto-me deslocado, como quem chega em um outro planeta ou outro país, com uma língua diferente. Tudo o que eu tinha ficou com o tempo passado, e ele foi implacável, me cobrando cada centavo que usei, deixando apenas as experiências, boas e más, que tive, para que me sirvam de ferramenta para construir meu novo momento.

Eu não sei ao certo o que vai me acontecer daqui para frente. O que tenho é a certeza é do meu agora, onde estou me reencontrando, acomodando meu corpo, alma, pensamento. E quando olho o abismo que apareceu repentinamente à minha frente não me desespero. Aprendi que é preciso recuar um pouco, até mais do que se esperava, calcular bem, ter a certeza da força nos músculos das pernas, da força da mente, ajustando bem cada elemento do corpo e, depois de tudo confirmado, disparar uma corrida definida, certeira, sabendo com precisão onde fica o ponto de pulo e simplesmente se jogar para cruzar o vazio, sentindo o ar passar por baixo dos pés, pelo vazio, onde se pode até cair, com os olhos focados no outro lado e, quando lá chegar, aterrissar firme e confiante, e continuar no trajeto, sabendo que o caminho só acaba quando chegamos ao final, não importando onde fique, mas aproveitando cada momento da viajem, sem se preocupar quanto à classificação ma chegada, mas sim com a felicidade de ter cumprido o dever que nos foi dado.