sábado, 12 de setembro de 2009

Jurar de coração

Jurar de coração

Já faz algum tempo que venho percebendo que só consigo escrever alguma coisa que se aproveite quando estou com os sentimentos muito revirados e as emoções muito afloradas, de maneira que, como já me disseram e até cheguei a citar aqui, me torno mais intenso no que escrevo. E hoje passei por um episódio que me tocou profundamente: fui assistir a um filme infantil e fui ledamente enganado. O filme era para adultos.

Acredito que seja de domínio público, pelo entre os que me conhecem, que sou um cinéfilo declarado e de carteirinha. Se cinema tivesse cartão fidelidade ou programa de milhagem, certamente já teria ganhado uma boa quantidade de seções gratuitas. Realmente é uma pena que não tenham. Assisto muita coisa, e por isso estou aprendendo a fazer avaliações um pouco mais profundas além daquela que é mostrada nos trailers ou lida nas sinopses. Ainda não sou nenhum grande crítico, apenas falo do que sinto enquanto os assisto. Até hoje, os filmes que mais tinham me tocado foram ‘Coração Valente’, pelo que um único homem foi capaz de fazer por um sentimento verdadeiro, ‘Uma mente brilhante’, por mostrar até que ponto podemos superar nossas limitações e ser capazes de fazer coisas incríveis, e ‘Em busca da felicidade’, por tocar num ponto que muito me sensibiliza, que foi a relação entre pai e filho, mostrando a doação e a capacidade de vencer por amor a um filho, mesmo diante de barreira teoricamente intransponíveis.

Eu precisei trabalhar em plena tarde de feriado da Independência, e por isso, estava em Itabuna, uma cidade próxima de Ilhéus. Como tinha acordado tarde e tomado café da manhã praticamente na hora do almoço, fui trabalhar sem almoçar propriamente dito, por isso, no fim da tarde eu já estava passando mal, literalmente a ponto de ficar com dor de cabeça, de tanta fome. Decidi, então, que depois de comer, iria assistir ao filme que estava em cartaz, uma animação, o nome é ‘Up, altas aventuras’. E assim o fiz.

Quando se escolhe assistir uma animação, a primeira coisa que as pessoas falam é: ‘você vai assistir filme de criança?!’. Eu respondo prontamente que vou porque realmente gosto. Mas não era o que eu encontraria. Ao invés disso, assisti uma história muito carregada de sentimentos, muito intensa e sofrida. Nos primeiros dez minutos do filme eu chorava. Era inacreditável que, em um filme infantil, fosse colocada uma história de tão profunda de amor e doação, a ponto de comover alguém. Fiquei surpreendido.

É óbvio que teria muita aventura, coisas engraçadas, como cães que possuem cóleras para sintetizar os pensamentos(ainda era uma animação). Mas a grande mensagem que eu guardei foi sobre o que torna um compromisso com outra pessoa um ato verdadeiramente importante e o que faz, de fato, as pessoas se dedicarem a uma outra pessoa que não é nada seu, a ponto de isso os tornarem uma única pessoa, divida em duas metades.

Nesse exato momento, estou percebendo que me torno um pouco meloso e até um bastante bobo. Mas sei que muitos, por menos que admitam, estão procurando algo parecido, e que por mais que se esconda, quer mesmo acertar na escolha, a ponto de, seu um dia for preciso, encher um milhão de balões, amarrar nas colunas da própria casa e fazer com que ela voe até onde a imaginação da outra pessoa queira estar, mesmo que seja em uma montanha remota do paraíso das cachoeiras ou simplesmente na rua, na chuva ou numa casinha de sapê na ponta de uma tulha qualquer desse mundo nosso sem fronteiras.

domingo, 6 de setembro de 2009

Simplesmente simples

Simplesmente simples

Depois de muitos e muitos e muitos dias sem aparecer, mandar notícias, carta social, mensagem em garrafa ou mesmo um sinal de fumaça, eis que ressurge: Eu! Assim... Não sei se alguém deu por falta, mas é sempre bom dar sinal de vida ( vai que isso interessa a alguém...). Eu bem que poderia ficar aqui desfiando os motivos pelos quais eu não tenho mais postado, mas acho que coisas que não são tão boas não precisam ser lembradas.

Essa é a terceira vez que tento parar para escrever. Sempre me aparece uma coisa para atrapalhar, tirar a atenção, ou é o sono que me carrega... Mas estou decidido a terminar esse bendito texto. A única questão é sobre o que falar. Ultimamente ando tão cheio de coisas para fazer que nem consigo refletir sobre minha vida.

Não sei se alguém já parou para pensar sobre o ritmo de vida que anda levando, o que tem deixado de fazer porque sempre tem uma coisa mais importante pra fazer, porque o seu chefe esta na cidade, por não-sei-mais-o-que, que só cada um sabe o quanto é ou não importante. Importante? Será mesmo tão importante assim? Ate que ponto essas coisas são de fato importantes para nós? E até quando aquelas outras não são?

Hoje eu precisei, mais uma vez, abrir mão do meu sábado para trabalhar. De fato sou grato pelo trabalho que tenho. Sei que ele poderia ser bem pior. Mas chega uma hora que a vontade é de largar tudo e sair correndo, mandar o chefe ir para um lugar bem estranho, desligar o celular e dirigir sem rumo ou destino, sem hora de chegar ou voltar. E por que não fazer isso? O que impede, de fato, esse tipo de atitude?

Se for fazer aqui uma enquete, cada um vai ter o seu motivo, e certamente ele será bem forte para cada um. Não digo todos, mas uma grande maioria da nossa geração foi provida de um grande senso de responsabilidade que acaba nos impedindo de ter certas atitudes transgressas. Estamos na era do fazer tudo para ontem. Fico pensando como vai ser daqui a uns tempos, quando o meu filho, que já usa MP5, com direito a fone de ouvido e tudo, sem ter completado sequer três anos. O coitado não vai ter tempo nem de ouvir o som dele, que já aprendeu a curtir desde já.

Tenho vários amigos e amigas que sempre falam que estão exaustos, esgotados, sem saber o que fazer para se recarregar. Sentimos uma imensa necessidade de estar conectado o tempo todo, com celulares, emails, computadores. Mas, mesmo tendo contato em tempo real com familiares, com direito a voz e imagem, sentimos solidão. Sentimos alguma coisa fora do lugar, alguma coisa simplesmente fora, tão fora que não temos acesso, mesmo tendo os melhores recursos ao nosso dispor.

Não quero ter atitude saudosista a essa altura do campeonato. O que eu quero é poder parar em minha casa e poder ficar só ouvindo o barulho do mar, o vento passando pelos coqueiros, sem ter que me preocupar se um ladrão vai entrar no meu quintal, ou se o meu telefone vai tocar e me mandar para a Casa de Noca. Sei que não sou o único. Sei que tem muita gente que sente o mesmo que eu, que quer poder ficar uma tarde inteira abraçado com o filho, esposa, namorado ou no colo da mãe, sem ter que se preocupar com a hora de trabalhar.

Mas enquanto não tenho muito esse tempo, eu vou parando por aqui. Não posso dizer que estou no meu melhor dia de inspiração, e por isso já vou pedindo desculpas a quem já leu alguma coisa que escrevi. Mas espero ter conseguido fazer refletir e, isso também serve para mim, pensar em como pode ser melhor a vida se, ao invés de procurar um monte de coisa para deixar ela assim tão enfeitada, tentar tirar pelo menos a metade dessas coisas que só nos fazem complicar as coisas e a vida de todos nós, de mim e de você. Viva a simplicidade!!!